segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cansaços e partidas

"Estou farto do lirismo comedido 
Do lirismo bem comportado 
Do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor. 

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. 

Abaixo os puristas. 
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais 
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção 
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis 

Estou farto do lirismo namorador 
Político 
Raquítico 
Sifilítico 
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo. 

De resto não é lirismo 
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar &agraves mulheres, etc. 

Quero antes o lirismo dos loucos 
O lirismo dos bêbados 
O lirismo difícil e pungente dos bêbados 
O lirismo dos clowns de Shakespeare. 

- Não quero saber do lirismo que não é libertação."
Manuel Bandeira

Não sou de recorrer a poemas... mas estou farta de tantas coisas...
Cansada da covardia das pessoas que se escondem atrás de sexo, álcool ou drogas.
A covardia que faz com que um homem não seja pai, não seja parceiro/ companheiro ou minimamente leal.
Da covardia de mulheres que escondem sua insegurança sob a máscara do ciúme, como se ele fosse prova de amor.
Tô de saco cheio das fronteiras que o tempo todo devem ser transpostas... 
De TER que atender a expectativa alheia... o outro idealiza algo sobre mim e eu tenho que atender?? Sem chance! mal dou conta de atender minhas próprias expectativas!
Tô cansada do movimento contemporâneo em que as pessoas buscam sanar sua dor, causando dor a outro fazendo uso egocêntrico do desejo sensual.

Estamos em tempos de miséria da alma. Sou um ser em transformação, às vezes relutante mas, espero mas não reconheço em mim ter banalizado a dor ou afeto alheio, especialmente de alguém com quem me importo. Sexo não sobressai a amizade.
A miséria está em todos os lugares! Cada reportagem que leio e tantas outras inúteis que estão por aí! A roupa desta, a falta de roupa daquela, aquela que amamenta, aquela que foi traída... aquele que bebeu, aquele que matou, aquele que traiu, aquele que falou palavrão... aaaffff Onde estão as notícias sobre grandes feitos ou boas reflexões? onde estão os momentos de coragem cotidianos? amassados no transporte público, escravo da merreca mensal e das dívidas nas gavetas, a gente sobrevive no sentido letárgico da coisa.

E, no meio da bagunça da pauliceia, recebo a notícia de que minha avó partiu... Adiei tantas vezes vê-la, envolvida no ritmo do cotidiano, perdi a possibilidade de um espelho silencioso. 
Lembro de minha avó com sues vestidos estampados, lenços na cabeça, com uma rudia na cabeça, batendo um super papo animado... casada com um homem mais jovem (herdei daí esta predileção?), minha avó tinha peculiaridades ímpares.
Mais uma vez, uma biblioteca que se foi.... esta, muito significativa, carregou consigo uma história que conheço poucas linhas. A distância geográfica, a péssima integração do interior do Brasil faz com que seja mais fácil ir para a Pequim do que a Condeúba. Terra que guarda o sabor da brevidade, do umbu e do requeijão. 




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