Discorrer sobre isto? não, não quero... Apenas digo que não dei ouvidos às inúmeras sugestões de complemento e não parei de amamentar quando me pressionaram ou desestimularam.
Vivi muita coisa louca para conseguir amamentar. Quero relembrar esta história.
O primeiro obstáculo: meu horror à leite. Eu recusei leite a vida inteira e assim tem sido até hoje. Fermentado, em iogurte e queijos, vai bem, mas no copo, seja leite humano, de vaca, de cabra, de elefante, não importa, não quero ver, tocar ou sentir o cheiro.
O obstáculo seguinte: não tive orientação sobre como amamentar. Meu peito rachou, sangrou, criou casca. Cilene, uma amiga abençoada, me presenteou com Lansinoh (acho que é este o nome da pomada) mas não foi miraculosa comigo, o peito seguia muito ferido.
Os conselhos de Adriana Guimarães e de uma lista virtual de apoio à amamentação, me tiraram desta encurralada - passar o próprio leite nos mamilos, expôr ao sol.
Aaaahh!! mas Dorah Madiba nasceu num dos dias mais frios de 2010 - me disseram que foi o mais frio! Logo, nada de sol por estas bandas... aí volta Adriana, que me ensinou a usar a lâmpada de abajour. 20 dias depois, o peito tava novo.
Mamava.
Regurgitava.
Poças de leite regurgitado em toda a casa!
Algumas almas solidárias fizeram esta faxina, algumas vezes.
1o mês - um excelente ganho de peso.
2o mês - ganhou pouco peso
3o mês.. hum, talvez precise de complemento.
um exame de sangue aqui, um nada de anormal ali...
A lista virtual me ensinando, me fortalecendo e eu resistindo: SEM COMPLEMENTO. "O leite que ela vai tomar é o que eu fabrico."
4o mês, o pediatra questiona minha mãe: "Cris era ruim de ganhar peso?" SIM!!! ATÉ HOJE!!! pronto, fim da história do complemento.
4o mês veio outra novela: retorno ao trabalho: bomba de tirar leite, armazenar leite, congelar leite e CONVENCER o adulto cuidador a oferecer leite num copo. Teimaram, brigaram, discutiram. Fiquei sozinha, teimando mais ainda. A nega do ziriguidum, um dia, toma da minha mão uma caneca de chá e vira na boca. Ofereço o leite na xícara e assim foi... mas o cuidador precisava de mamadeira. Nova dica de Adriana Guimarães e, na lista, consegui uma mamadeira que já não era mais fabricada mas que atendia as necessidades: formato do bico do peito e era uma mamadeira...
alguns stress e peito sem leite, má alimentação e peito com pouco leite.. tudo rolou... nunca pensei em desistir... o objetivo era amamentar até os 2 anos e, se ela quisesse mais, quando chegasse a 2, reveríamos.
5o mês: creche. Lá vai a tal mamadeira almodovariana, meu leite congelado e Aptamil de soja.
6o mês - igual, entrou o suco.
Tirar o leite era uma coisa de louco... o ideal pouco aconteceu, fiz o que deu.. o peito doía, cheio de leite, endurecia, minha coluna gelava... tudo o que eu queria era grudar minha filha no peito e dizer: ESVAZIE OS DOIS!! enfim, vida medíocre, ops, moderna! E assim findamos a amamentação exclusiva..
Dormíamos na mesma cama. As noites passaram a ser uma loucura... era o momento em que estávamos juntas e ela grudava no meu peito. Dormia. Acordava. Chorava. Grudava de novo... mais de saudade do que fome. Passamos 2 meses assim. "quizá ela dormisse melhor no berço?" funcionou. Desde os 9 meses dorme no berço dela, sem que eu tenha que criar estratégias mirabolantes para que ela dormisse.
A partir daí não contei...
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Na Bienal |
amamentei indo, vindo, dormindo. Amamentei em shows, na casa de amigas, no museu, na Bienal. Amamentei em todos os cantos em que estivemos. O peito era dela.
Escutei piadas, comentários toscos, recebi olhares maliciosos, reprovadores.. vixi.. tudo o que poderia rolar, rolou.
Daí ela começa a falar: "pe", pedindo peito. Não chamo meu peito de "tetê, mamá" ou sei lá o quê. Peito é peito.
Aprimorou a fala: "peito!"
Também aprendeu a puxar minha blusa pedindo peito. Estimulei a dizer o que quer e não tomar de assalto. "O peito é meu e eu te dou".
Pedia peito sempre que entrávamos na lotação.
Pedia peito várias vezes.
Passou a pedir o outro.
Passou a pedir dia sim, dia não...
ops, 2 dias sem pedir peito?
lá vem ela grudando de novo...
e neste vai-e-vem fomos até 8 de julho de 2012.
Na companhia do Caos do Subúrbio, desfrutando duma janta deliciosa na casa de D. Odete, ela pegou meu peito pela última vez.
Eu não sabia que era a última vez... mas sabia que poderia ser.
E foi.
Já tomei vinho
Já passei hidratante.
Já usei cacharrel.
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Com Ariane e Pietro |
Hoje ela tomou uma patada do Cheik. Tava sentida... e como eu quis colocá-la no meu peito pra acalmá-la... mas acabou... "saber parar é pra homem sábio" -rapeia Criolo em Sucrilhos - mas minha criança, minha filha linda, já tem sua sabedoria. Mudamos a fase... tenho peito, tenho colo, tenho uma cama... e hoje ela dormirá comigo, com curativo no lábio e dormirá sempre que quiser... ela é minha, eu sou dela... logo mais ela será do mundão e eu sempre vou sentir saudade da sensação fantástica que foi amamentá-la por 1ano, 10 meses e 21 dias.
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Natal |
Com Fator do E.G. |
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