quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Saber a hora de parar é pra homem sábio"

Semana Mundial de Amamentação... algo que deveria ser tão básico, uma vez que somos mamíferos, encontra resistência em nossa sociedade, a ponto de ser preciso "politizar" o momento, institucionalizá-lo, para garantir a reflexão e o direito da mãe e da criança.

Discorrer sobre isto? não, não quero... Apenas digo que não dei ouvidos às inúmeras sugestões de complemento e não parei de amamentar quando me pressionaram ou desestimularam.
Vivi muita coisa louca para conseguir amamentar. Quero relembrar esta história.
O primeiro obstáculo: meu horror à leite. Eu recusei leite a vida inteira e assim tem sido até hoje. Fermentado, em iogurte e queijos, vai bem, mas no copo, seja leite humano, de vaca, de cabra, de elefante, não importa, não quero ver, tocar ou sentir o cheiro.
O obstáculo seguinte: não tive orientação sobre como amamentar. Meu peito rachou, sangrou, criou casca. Cilene, uma amiga abençoada, me presenteou com Lansinoh (acho que é este o nome da pomada) mas não foi miraculosa comigo, o peito seguia muito ferido.
Os conselhos de Adriana Guimarães e de uma lista virtual de apoio à amamentação, me tiraram desta encurralada - passar o próprio leite nos mamilos, expôr ao sol.
Aaaahh!! mas Dorah Madiba nasceu num dos dias mais frios de 2010 - me disseram que foi o mais frio! Logo, nada de sol por estas bandas... aí volta Adriana, que me ensinou a usar a lâmpada de abajour. 20 dias depois, o peito tava novo.
Bom, em meio a isto tudo, muita sede, má alimentação numa época crucial, um cansaço tremendo, os hormônios loucos... a criança no peito várias vezes ao dia, 40 minutos de cada lado.
Mamava.
Regurgitava.
Poças de leite regurgitado em toda a casa!
Algumas almas solidárias fizeram esta faxina, algumas vezes.
1o mês - um excelente ganho de peso.
2o mês - ganhou pouco peso
3o mês.. hum, talvez precise de complemento.
um exame de sangue aqui, um nada de anormal ali...
A lista virtual me ensinando, me fortalecendo e eu resistindo: SEM COMPLEMENTO. "O leite que ela vai tomar é o que eu fabrico."
4o mês, o pediatra questiona minha mãe: "Cris era ruim de ganhar peso?" SIM!!! ATÉ HOJE!!! pronto, fim da história do complemento.
4o mês veio outra novela: retorno ao trabalho: bomba de tirar leite, armazenar leite, congelar leite e CONVENCER o adulto cuidador a oferecer leite num copo. Teimaram, brigaram, discutiram. Fiquei sozinha, teimando mais ainda. A nega do ziriguidum, um dia, toma da minha mão uma caneca de chá e vira na boca. Ofereço o leite na xícara e assim foi... mas o cuidador precisava de mamadeira. Nova dica de Adriana Guimarães e, na lista, consegui uma mamadeira que já não era mais fabricada mas que atendia as necessidades: formato do bico do peito e era uma mamadeira...
alguns stress e peito sem leite, má alimentação e peito com pouco leite.. tudo rolou... nunca pensei em desistir... o objetivo era amamentar até os 2 anos e, se ela quisesse mais, quando chegasse a 2, reveríamos.
5o mês: creche. Lá vai a tal mamadeira almodovariana, meu leite congelado e Aptamil de soja.
6o mês - igual, entrou o suco.
Tirar o leite era uma coisa de louco... o ideal pouco aconteceu, fiz o que deu.. o peito doía, cheio de leite, endurecia, minha coluna gelava... tudo o que eu queria era grudar minha filha no peito e dizer: ESVAZIE OS DOIS!! enfim, vida medíocre, ops, moderna! E assim findamos a amamentação exclusiva..
Dormíamos na mesma cama. As noites passaram a ser uma loucura... era o momento em que estávamos juntas e ela grudava no meu peito. Dormia. Acordava. Chorava. Grudava de novo... mais de saudade do que fome. Passamos 2 meses assim. "quizá ela dormisse melhor no berço?" funcionou. Desde os 9 meses dorme no berço dela, sem que eu tenha que criar estratégias mirabolantes para que ela dormisse.
A partir daí não contei...
Na Bienal
Amamentei no metrô, na lotação, no trem... sem capa de amamentação, sem fraldinha na cara da criança...
amamentei indo, vindo, dormindo. Amamentei em shows, na casa de amigas, no museu, na Bienal. Amamentei em todos os cantos em que estivemos. O peito era dela.
Escutei piadas, comentários toscos, recebi olhares maliciosos, reprovadores.. vixi.. tudo o que poderia rolar, rolou.
Daí ela começa a falar: "pe", pedindo peito. Não chamo meu peito de "tetê, mamá" ou sei lá o quê. Peito é peito.
Aprimorou a fala: "peito!"
Também aprendeu a puxar minha blusa pedindo peito. Estimulei a dizer o que quer e não tomar de assalto. "O peito é meu e eu te dou".
Pedia peito sempre que entrávamos na lotação.
Pedia peito várias vezes.
Passou a pedir o outro.
Passou a pedir dia sim, dia não...
ops, 2 dias sem pedir peito?
lá vem ela grudando de novo...
e neste vai-e-vem fomos até 8 de julho de 2012.
Na companhia do Caos do Subúrbio, desfrutando duma janta deliciosa na casa de D. Odete, ela pegou meu peito pela última vez.
Eu não sabia que era a última vez... mas sabia que poderia ser.
E foi.
Já tomei vinho
Já passei hidratante.
Já usei cacharrel.
Com Ariane e Pietro

Hoje ela tomou uma patada do Cheik. Tava sentida... e como eu quis colocá-la no meu peito pra acalmá-la... mas acabou... "saber parar é pra homem sábio" -rapeia Criolo em Sucrilhos - mas minha criança, minha filha linda, já tem sua sabedoria. Mudamos a fase... tenho peito, tenho colo, tenho uma cama... e hoje ela dormirá comigo, com curativo no lábio e dormirá sempre que quiser... ela é minha, eu sou dela... logo mais ela será do mundão e eu sempre vou sentir saudade da sensação fantástica que foi amamentá-la por 1ano, 10 meses e 21 dias.
Natal
Com Fator do E.G.






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