Levei tanto tempo pra ter coragem de ler Dom Quixote que, não sei se lamento ou comemoro. A comemoração: porque me apresentou a novos autores... Lamento porque não haverá nada semelhante, mesmo no século XXI.
Com a enxurrada de informações, de acessos, de possibilidades - ainda assim - não haverá nada que se assemelhe a este livro.
Nossa capacidade de sonhar é podada, diante de realidade(s) tão dura(s).
O tempo que temos disponível para nos debruçarmos em qualquer tema de nossa vida - seja ele no aspecto criativo ou não, é tão reduzido que uma construção tão bem feita, como a de Quixote, com sua alucinação e a realidade, não tem como serem elaboradas.
Ainda que levemos uma vida lendo os melhores livros, bebendo das melhores fontes, não sei se será possível, neste início de século, deixarmos um legado tão rico quanto o que Cervantes deixou.
Não estou apaixonada pelo livro. Estou encantada pela escrita, pela sutileza entre o real e o imaginário.
Sigo apaixonada por outros escritores, por outros livros. Me encantam histórias escritas por Gabriel Garcia Marquez, cuja memória se transformou em realismo mágico. Ainda suspiro com Te di la vida entera, de Zoe Valdes; tenho paixão por En el reino deste mundo, de Alejo Carpentier. Terra Sonâmbula seguirá como um dos livros mais belos que li. Recentemente, A Ilha sob o mar, de Isabel Allende, me tirou o fôlego, com a história de Zarité , uma haitiana que passa a viver em New Orleans. New Orleans guarda outras histórias, como as de Anne Rice.
No mundo há mais livros apaixonantes do que homens capazes de despertar o mesmo encantamento. Agora que encarei Dom Quixote, irei até o fim mas com a certeza de que estou diante de uma obra ímpar na história da humanidade.
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