Tenho
um novo livro de cabeceira: "O Macho Demoníaco - as origens da
agressividade humana" do inglês Richard Wrangham, professor da Universidade de Harvard e
diretor do Kibale Chimpanzee Project de Uganda, patrocinado pela National
Geographic Society, e de Dale Peterson, pesquisador especializado em
primatas e escritor de livros científicos.
Quem me indicou a leitura, há uma década, sabia que este livro me intrigaria.
Quem me indicou a leitura, há uma década, sabia que este livro me intrigaria.
É uma investigação com os primatas: Chimpanzé,
Bonobo, Homem, Gorila e Orangotango. A pergunta do pesquisador é: "por
que atacamos quem é da nossa mesma espécie?" Ele busca a resposta no
macho: seriam questões biológicas? é a luta pela expansão dos genes?
poder? território? comida?
Ele
descreve várias situações de violência contra as fêmeas em todos os
primatas. Os bonobos são os primatas que apresentam violência em índices
consideravelmente menores. Será coincidência este grupo ter uma
organização centrada nas fêmeas?
"(...)
os bonobos nos guiam na especulação sobre o significado do poder
feminino, e ambos suscitam a noção importante de que o verdadeiro poder
feminino não é simplesmente uma imagem invertida do poder
masculino, mas algo completamente diferente, em amplitude e
características. (...) São matriotas mas não se tornam imperialistas."
pág. 292
(...)
As respostas estratégicas desenvolvidas pelas mulheres ante o demonismo
masculino incluem contramedidas e desafio, mas também incluem
colaboração. Ou seja, enquanto os homens evoluíram no sentido de
tornarem machos demoníacos, parece provável que mulheres tenham evoluído
no sentido de preferirem como parceiros machos demoníacos (ou machos
demoníacos de imitação). Essa inclinação faz sentido, em termos
evolutivos, por duas razões. A
primeira é que o macho demoníaco é aquele que tende a melhor proteger a
fêmea contra a violência de outros machos, e assim garantir a segurança
dela e de sua prole. A segunda esta em que, enquanto os machos
demoníacos forem os reprodutores de maior êxito, qualquer fêmea que se
acasale com ele terá filhos que serão por sua vez, bons reprodutores.
(...) As mulheres tendem, até certo ponto, a ser atraídas por características do demonismo masculino.
(...) Embora
muitas mulheres preferissem que não fossem assim no mundo real o
"machão" se vê assediado por admiradoras, enquanto que seu amigo
discreto fica com o copo de vinho, sozinho, sentado no bar.
Individualmente, os homens e as mulheres que compõem nossa espécie
estão, de uma maneira extraordinária, prontos pra admirar, amar e
recompensar o demonismo masculino em muitas de suas manifestações. Essa
admiração, esse amor e essa recompensa perpetuam a continuação, geração
após geração, do macho demoníaco dentro de nós.
"Soltando-se da armadilha
(...)
Entre os bonobos, porém, as fêmeas (libertadas das limitações
ecológicas) responderam ao problema de maneira eficiente. O resultado,
como dissemos, foi de fato uma revolução na natureza de sua sociedade; a
passagem do que num certo momento foi uma forma desagradável de
patriarcado para um mundo tolerante e encantador, no qual os sexos são
iguais."
"Mesmo se não há grupo
humano algum em que as mulheres tenham conquistado grau comparável de
igualdade, as mulheres em todas as partes do mundo têm muito do mesmo
potencial das bonobos fêmeas ara mudar o sistema. Em todo os lugares, as
mulheres desenvolvem redes sociais de apoio mútuo. Por toda parte, as
mulheres exercem alguma influência sobre seus maridos, filhos e outros
homens, poder muitas vezes muito mais forte do que parece à primeira
vista. O problema está em que, e todos os lugares, as mulheres são
apanhadas numa armadilha. Se elas se
dão um
apoio muito grande, tornam-se passíveis de perder o que que querem, que
é o investimento e a proteção dos homens mais desejáveis."
(...)
"Individualmente, as mulheres são apanhadas na armadilha e querer um
homem que as proteja e sustente. Como um grupo, as mulheres vêem seus
interesses gerais serem ignorados ou sufocados porque algumas mulheres
se põe do lado dos homens."
"Os
bonobos nos mostram que essa armadilha pode ser destruída através de
alianças femininas. Entre os humanos, o equivalente direto seria se as
mulheres se mantivessem unidas, dia e noite, em grupos tão grandes e
bem-armados que pudessem sempre reprimir a hostilidade de homens
agressivos e desordeiros. A perspectiva parece fantástica demais para
continuar sendo debatida. Felizmente, os humanos são capazes de criar
outras possibilidades." (pág 298)
Eu
entendo que a formação de alianças femininas são uma destas
possibilidades citada pelo autor. Potencializar o grupo, fortalecer as discussões, formar uma rede de apoio e de trocas, ajuda a mulher a se sentir mais fortalecida.
Porém, se as questões que a enfraquece são da vida privada, como levar isto para a esfera pública?
Se a
situação envolve uma figura paterna que não exerce a paternidade e esta não consegue
ser resolvida pelos caminhos jurídicos em tempo cronológico ideal e
aceitável, mas num tempo possível. O sistema judiciário tem mecanismos
para resolver a questão financeira mas não o convívio. E, em algumas
situações, melhor que seja assim. Assim como várias outras questões
cotidianas que o Direito não tem pernas pra alcançar mas, nós, em
sociedade e aliança podemos dar, sim, uma resposta.
Se
hoje sou eu quem vivencia determinada situação, ontem foi outra mulher e
amanhã será vivenciada por uma terceira mulher. O que há em comum?
Situações que envolvem mulheres e homens de
comportamento abusivo e/ou irresponsável.
Penso
que aqui cabe a armadilha que o investigador apontou em O Macho
Demoníaco. Em determinados momentos apoiamos um homem de comportamento
demoníaco.
Bom,
não tenho
uma resposta. Tenho um posicionamento e, assim como muitas de nós, tenho
uma história. Para ela, com as bençãos dos ancestrais, estou trilhando o
caminho bem amparada mas, sempre aparece quem não conhece nossa
história e, por mais que Dorah Madiba esteja bem e a gente tenha
sobrevivido até às maluquices que nos surgiram, meu objetivo não é
conseguir aliadas para mim mas buscar a reflexão no campo do trabalho,
sobre quais são os valores e as posturas em nosso trabalho.
Quero apostar na aliança feminina, na experiência bonobo em que as fêmeas são o centro da sociedade, compartilham afeto, comida e posição no grupo porém, seguem se relacionando com os machos, sem desprezá-los ou descartá-los.
Já o macho, deixar de ser demoníaco? hum.. não sei se viverei para ver isto.
Já o macho, deixar de ser demoníaco? hum.. não sei se viverei para ver isto.
Mas há um caminho.. fui apresentada a este vídeo e ele trouxe boas reflexões.
fica a dica:
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