sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Macho demoníaco e alianças femininas

Tenho um novo livro de cabeceira: "O Macho Demoníaco - as origens da agressividade humana" do inglês Richard Wrangham, professor da Universidade de Harvard e diretor do Kibale Chimpanzee Project de Uganda, patrocinado pela National Geographic Society, e de Dale Peterson, pesquisador especializado em primatas e escritor de livros científicos

Quem me indicou a leitura, há uma década, sabia que este livro me intrigaria.
 
É uma investigação com os primatas: Chimpanzé, Bonobo, Homem, Gorila e Orangotango. A pergunta do pesquisador é: "por que atacamos quem é da nossa mesma espécie?" Ele busca a resposta no macho: seriam questões biológicas? é a luta pela expansão dos genes? poder? território? comida? 
Ele descreve várias situações de violência contra as fêmeas em todos os primatas. Os bonobos são os primatas que apresentam violência em índices consideravelmente menores. Será coincidência este grupo ter uma organização centrada nas fêmeas?

"(...) os bonobos nos guiam  na especulação sobre o significado do poder feminino, e ambos suscitam a noção importante de que o verdadeiro poder feminino  não é simplesmente uma imagem invertida do poder masculino, mas algo completamente diferente, em amplitude e características. (...) São matriotas mas não se tornam imperialistas." pág. 292

(...) As respostas estratégicas desenvolvidas pelas mulheres ante o demonismo masculino incluem contramedidas e desafio, mas também incluem colaboração. Ou seja, enquanto os homens evoluíram no sentido de tornarem machos demoníacos, parece provável que mulheres tenham evoluído no sentido de preferirem como parceiros machos demoníacos (ou machos demoníacos de imitação). Essa inclinação faz sentido, em termos evolutivos, por duas razões. A primeira é que o macho demoníaco é aquele que tende a melhor proteger a fêmea contra a violência de outros machos, e assim garantir a segurança dela e de sua prole. A segunda esta em que, enquanto os machos demoníacos forem os reprodutores de maior êxito, qualquer fêmea que se acasale com ele terá filhos que serão por sua vez, bons reprodutores.

(...) As mulheres tendem, até certo ponto, a ser atraídas por características do demonismo masculino. 

(...) Embora muitas mulheres preferissem que não fossem assim no mundo real o "machão" se vê assediado por admiradoras, enquanto que seu amigo discreto fica com o copo de vinho, sozinho, sentado no bar. Individualmente, os homens e as mulheres que compõem nossa espécie estão, de uma maneira extraordinária, prontos pra admirar, amar e recompensar o demonismo masculino em muitas de suas manifestações. Essa admiração, esse amor e essa recompensa perpetuam a continuação, geração após geração, do macho demoníaco dentro de nós.


Bonobo fêmea by Christopher Lynn


"Soltando-se da armadilha
(...) Entre os bonobos, porém, as fêmeas (libertadas das limitações ecológicas) responderam ao problema de maneira eficiente. O resultado, como dissemos, foi de fato uma revolução na natureza de sua sociedade; a passagem do que num certo momento foi uma forma desagradável de patriarcado para um mundo tolerante e encantador, no qual os sexos são iguais."

"Mesmo se não há grupo humano algum em que as mulheres tenham conquistado grau comparável  de igualdade, as mulheres em todas as partes do mundo têm muito do mesmo potencial das bonobos fêmeas ara mudar o sistema. Em todo os lugares, as mulheres desenvolvem redes sociais de apoio mútuo. Por toda parte, as mulheres exercem alguma influência sobre seus maridos, filhos e outros homens, poder muitas vezes muito mais forte do que parece à primeira vista. O problema está em que, e todos os lugares, as mulheres são apanhadas numa armadilha. Se elas se dão um apoio muito grande, tornam-se passíveis de perder o que que querem, que é o investimento e a proteção dos homens mais desejáveis."

(...) "Individualmente, as mulheres são apanhadas na armadilha e querer um homem  que as proteja e sustente. Como um grupo, as mulheres vêem seus interesses gerais serem ignorados ou sufocados porque algumas mulheres se põe do lado dos homens."

"Os bonobos nos mostram que essa armadilha pode ser destruída através de alianças femininas. Entre os humanos, o equivalente direto seria se as mulheres se mantivessem unidas, dia e noite, em grupos tão grandes e bem-armados que pudessem sempre reprimir a hostilidade de homens agressivos e desordeiros. A perspectiva parece fantástica demais para continuar sendo debatida. Felizmente, os humanos são capazes de criar outras possibilidades." (pág 298)

Eu entendo que a formação de alianças femininas são uma destas possibilidades citada pelo autor. Potencializar o grupo, fortalecer as discussões, formar uma rede de apoio e de trocas, ajuda a mulher a se sentir mais fortalecida.
Porém, se as questões que a enfraquece são da vida privada, como levar isto para a esfera pública?

Se a situação envolve uma figura paterna que não exerce a paternidade e esta não consegue ser resolvida pelos caminhos jurídicos em tempo cronológico ideal e aceitável, mas num tempo possível. O sistema judiciário tem mecanismos para resolver a questão financeira mas não o convívio. E, em algumas situações, melhor que seja assim. Assim como várias outras questões cotidianas que o Direito não tem pernas pra alcançar mas, nós, em sociedade e aliança podemos dar, sim, uma resposta.
Se hoje sou eu quem vivencia determinada situação, ontem foi outra mulher e amanhã será vivenciada por uma terceira mulher. O que há em comum? Situações que envolvem mulheres e homens de comportamento abusivo e/ou irresponsável. 

Penso que aqui cabe a armadilha que o investigador apontou em O Macho Demoníaco. Em determinados momentos apoiamos um homem de comportamento demoníaco. 
Bom, não tenho uma resposta. Tenho um posicionamento e, assim como muitas de nós, tenho uma história. Para ela, com as bençãos dos ancestrais, estou trilhando o caminho bem amparada mas, sempre aparece quem não conhece nossa história e, por mais que Dorah Madiba esteja bem e a gente tenha sobrevivido até às maluquices que nos surgiram, meu objetivo não é conseguir aliadas para mim mas buscar a reflexão no campo do trabalho, sobre quais são os valores e as posturas em nosso trabalho. 
Quero apostar na aliança feminina, na experiência bonobo em que  as fêmeas são o centro da sociedade, compartilham afeto, comida e posição no grupo porém, seguem se relacionando com os machos, sem desprezá-los ou descartá-los.
Já o macho, deixar de ser demoníaco? hum.. não sei se viverei para ver isto.
Mas há um caminho.. fui apresentada a este vídeo e ele trouxe boas reflexões.
fica a dica:

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